Desata a Falar e não Pares Nunca Mais!
- Padre Cristóvão

- 26 de fev.
- 2 min de leitura

Imaginemos a seguinte situação: alguém teve um mau dia, talvez tenha recebido uma má notícia, quiçá descobriu uma enfermidade, ou ainda perdeu ou viu ir-se para longe alguém que ama, ou apenas está fatigado e procura um pouco de descanso – essa pessoa então, católica, resolve, depois de sair do trabalho, passar na Igreja para fazer um pouco de oração e participar da Santa Missa: é a presença de Deus tudo o que ele ou ela precisa neste exato momento.
Chegando à igreja, porém, faltando alguns minutos para a santa missa, depara-se com um ambiente nada convidativo à oração, à reflexão e ao recolhimento que permite ponderar a situação da vida à luz do amor de Deus. Ali estão senhoras e senhores, jovens e crianças, com cócegas em suas línguas, que os fazem palrar desenfreadamente num verdadeiro frenesi verbal, frenético e sem fim, matracas condenadas a soar cacofonicamente até ao fim do mundo, sem nada que as possa impedir de emitir o seu som sem sentido e sem significado.
Além disso, o excesso de luz branca, fazendo comprimir-se totalmente as pupilas dos olhos, não só destrói qualquer clima de mistério que a Palavra de Deus exige, como também faz aumentar a sensação de fadiga depois de um longo dia de trabalho. O teto da igreja, outrora com pé direto alto, já não mais propicia a sensação de espacialidade ampla que favorece a oração, porque ele foi rebaixado, e agora o céu, com gesso branco e muitas lâmpadas mais radiantes que o sol do meio-dia de janeiro em Fortaleza, ficou tão sacro quanto o corredor de um shopping.
Lá no canto, uma equipe de músicos configura o volume do som ao máximo, e o restinho do que poderia ser um atmo de silêncio é solapado por um sacrossanto “um, dois, três, som, testando...” E o nosso irmão, a nossa irmã, que saiu do trabalho com saudades de Deus e uma vontade de rezar, já se esqueceu a que viera, e espera, cansado ou cansada, pelo começo da Santa Missa, quando, finalmente poderá desfrutar de um bocado de silêncio e contemplação na consagração eucarística, isso claro se o padre não a dizer como um animador de rodeio (o que eu já vi!).
Parece que o espírito de oração foi exorcizado de nossas igrejas por um anjo do mal. Talvez seja uma vingança daquele mesmo anjo caído a quem Jesus disse uma vez quando foi libertar um menino: “sai dele e não tornes nunca mais!”. Talvez este demônio tenha dito a muitos católicos irmãos nossos: “desata a falar e não pares nunca mais!” Será que foi isso o que aconteceu? É uma pena, Jesus merecia um pouco mais de atenção.
